A desconstrução e reconstrução dos jogos e das brincadeiras no contexto atual
A desconstrução e reconstrução dos jogos e das brincadeiras no contexto atual.
Autor: Leandro Miller
Publicado no ano de 2017
Os jogos e as brincadeiras acompanham a trajetória histórica do
ser humano desde os primórdios, vários relatos apontam a utilização
destes elementos da cultura corporal pelo homem. Os jogos e as
brincadeiras possuem papel relevante no desenvolvimento do ser humano
pois envolve aspectos diretamente ligados ao seu modo de viver:
movimento, sentimento, pensamento e relacionamento. A contribuição
desses elementos têm tanto destaque no processo evolutivo do homem
que o filósofo grego Platão chega afirmar que “você pode
descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que um
ano de conversa”.
O jogo (brincar e jogar são sinônimos em diversas línguas) é uma
invenção do homem, um ato em que sua intencionalidade e curiosidade
resultam num processo criativo para modificar, imaginariamente, a
realidade e o presente (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Sendo
assim Brasil (2002, p.209-210) ainda define os jogos como:
Os
jogos podem ter maior flexibilidade nas regulamentações, que são
adaptadas em função das condições de espaço e material
disponíveis e do número de participantes, entre outros. São
exercidos em caráter competitivo, cooperativo ou recreativo em
situações festivas, comemorativas, de confraternização ou,
ainda, no cotidiano, como simples passatempo e diversão. Assim,
incluem-se entre jogos as brincadeiras regionais, os jogos de
salão, de mesa, de tabuleiro, de rua e as brincadeiras infantis
de modo geral.
Mas, ao longo do tempo alguns aspectos relacionados as brincadeiras
tem se perdido por conta do processo de desenvolvimento urbano e por
determinados acontecimentos entre os quais podem se destacar o
investimento na formação intelectual da criança e a falta de
segurança pública. Também, a falta de espaço e de vivência, tem
sido refletido diretamente na ação das crianças durante a vivência
das brincadeiras, seja num espaço informal, seja num espaço formal,
neste caso a escola.
A compreensão dos jogos e das brincadeiras tem se tornado um
imbróglio a medida que as crianças não se atentam ao real objetivo
da atividade. A falta de concentração e atenção podem ser algumas
das possíveis justificativas, mas o que leva a esse processo de
desconstrução dos jogos e das brincadeiras no contexto atual? Este
estudo busca abrir um discussão no cenário da Educação Física
Escolar para compreender este contexto sobre a desconstrução e a
reconstrução dos jogos e brincadeiras no dia a dia da criança.
Observa-se a desconstrução das brincadeiras durante a aplicação
da atividade pique pega percebe-se que os alunos que configuram como
fugitivos se deixam propositalmente ser “pego” pelo aluno nomeado
como pegador. O mesmo acontece em outros momentos lúdicos como nas
atividades de pique-cola e pique alto. Prova disso é que ao
compreender a dinâmica destes jogos a criança cria uma estratégia
de correr próximo ao pegador para facilitar sua captura ou então
observa o pegador correndo na sua direção e “se deixa” pegar.
Isso leva ao professor rever a dinâmica das brincadeiras a fim de
criar novas estratégia para as atividades e novas perspectivas para
a criança. Percebê-los durante o ato de brincar facilitará sua
análise acima do comportamento que eles refletem na atividade.
Variações que coloquem em conflito os diversos jeitos de jogar
podem ser úteis para estabelecer contradições e gerar tomadas de
consciência, mas podem não ser suficientes. Por isso, o professor
deve adotar outras medidas, como estabelecer conversar entres os
alunos cuja finalidade seja levá-los a buscar uma forma de jogar
melhor. (FREIRE e SCAGLIA, 2009).
Atualmente as crianças têm tido a dificuldade de assimilar de modo
claro o papel de cada personagem durante um jogo ou uma brincadeira,
por isso resgatar o faz de conta e estimular o imaginário nas
atividades pode ser uma alternativa para a compreensão de cada ator
durante a brincadeira, no caso do pique pega, despertar a sensação
de fugir de algo a fim de salvar a própria vida.
Essa sensação de desconstrução também é observada durante o
queimado que é uma brincadeira tradicional tanto na rua quanto no
espaço escolar. Ao pensar o objetivo deste jogo que se caracteriza
num jogo de ataque e defesa, onde o aluno atingido se caracteriza
como queimado e logo vai para uma zona que em algumas regiões é
conhecida por cemitério, não seria uma sensação agradável
“morrer” durante a brincadeira. Entretanto é percebido que
alguns alunos provocam o próprio “suicídio”, assim
descaracterizando o objetivo do jogo. Mais uma vez é relevante
intervenção do professor com estratégias que possam diminuir esta
prática de “se deixar queimar”.
Esse processo de desconstrução das brincadeiras pode ser causadas
por vários motivos, entre os quais podem ser destacar as seguintes:
pequenos espaços para oportunizar esses momentos, alguns jogos
eletrônicos que reduz a possibilidade de movimentos corporais,
ressaltando que aqui não irá diabolizar este recurso, entretanto
não pode ser a única alternativa de brincadeira, os próprios
brinquedos que na atualidade oferecem inúmeros recursos reduzindo a
possibilidade da criança recriar este material.
O processo de reconstrução da brincadeiras e jogos a partir da
desconstrução exige que o professor tenha clareza da importância
desse elemento da cultura corporal no processo de formação do ser
humano. Explorar os espaços existentes de diferentes formas, propor
novas regras para as atividades, demonstrar emoção no ato da
brincadeira são algumas das formas de trazer aos alunos novas
perspectivas acima das brincadeiras, a brincadeira não pode ser
resumida apenas a uma atividade a ser cumprida. A brincadeira não
pode e não deve ser previsível para quem brinca. Ela deve
proporcionar sensações, emoções, dúvidas, conflitos, enfim,
vários aspectos que são importantes para o processo de
desenvolvimentos das crianças.
As práticas podem resultar em conhecimentos meramente técnicos
para um bom desempenho no jogo de queimada, mas também, podem ser
conscientizadas, permitindo que os conhecimentos adquiridos –
cooperar, organizar-se socialmente – sejam levados para outras
situações (FREIRE e SCAGLIA, 2009).
A comunicação entre os atores envolvidos nas brincadeiras deve ser
clara e objetiva, para que todos possam compreender o seu papel
durante a atividade. Os regras devem ser respeitadas conforme o
combinado antes do início do jogo. Propor uma discussão sobre novas
possibilidades de regras e ações nas brincadeiras com alunos
também é uma alternativa para fidelizar este momento.
Corroborando Darido e Rangel (2005) afirmam que quem joga tem que
saber o que está fazendo e que todos têm que respeitar as condições
para que o jogo aconteça. O nome que se dá ao conjunto dessas
condições que aceitamos para realizar um jogo é “regra”, ela
está presente em quase tudo o que fazemos em nosso dia-a-dia.
Portanto adequar as brincadeiras e jogos aos novos tempos e novos
espaços se torna um compromisso que os profissionais de Educação
Física devem assumir a fim de manter esse elemento cultural no
cotidiano do indivíduo sem perder sua essência e suas
características. Propor momentos de diálogo após as atividades
pode colaborar para novas possibilidades de vivência das
brincadeiras, conhecer quem são as crianças que brincam no dia de
hoje são algumas das possibilidades que podem contribuir para a
prática dos jogos e brincadeiras de modo prazeroso, logo as aulas de
Educação Física principalmente no período da Educação Infantil
até 5° ano do Ensino Fundamental são essenciais para contribuir
para esse processo de reconstrução.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Ministério da Educação.
Secretária de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais:
Educação Física/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:
MEC, p.114, 1998.
RANGEL, I.C; DARIDO, S.C .
Educação física na
escola: implicações para a prática pedagógica. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física.
São Paulo: Cortez, 1992.
FREIRE, João Batista; SCAGLIA, José Alcides. Educação como
prática corporal. São Paulo: Scipione, 2003.
Publicado em: http://webartigos.com/artigos/a-desconstrucao-e-reconstrucao-dos-jogos-e-das-brincadeiras-no-contexto-atual/125540
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