Avaliação em Educação Física na EJA
As propostas curriculares atuais, bem como a legislação vigente, primam por conceder uma grande importância à avaliação, reiterando que ela deve ser contínua, formativa e personalizada, concebendo-a como mais um elemento do processo ensino-aprendizagem, o qual nos permite conhecer os resultados de nossas ações didáticas e, por conseguinte, melhorá-las (ZACHARIAS, 2008).
Esta
importância dada à avaliação consiste em não valorizar o aspecto
quantitativo, mas mostrar que o processo de ensino-aprendizagem não
se dá por intermédio de notas e conceitos e sim, de forma
não-linear e qualitativa.
A
aprendizagem ocorre de forma singular, cada um aprende de uma forma e
em determinado tempo, alguns com mais facilidades, outros com mais
dificuldades. Compreender esta questão possibilita ao professor a
construção de uma prática avaliativa mais justa. Logo se faz
necessário uma avaliação no enfoque formativo.
Segundo
Zacharias (2008, p.01) sobre a avaliação formativa:
Não
tem como objetivo classificar ou selecionar. Fundamenta-se nos
processos de aprendizagem, em seus aspectos cognitivos, afetivos e
relacionais; fundamenta-se nas aprendizagens significativas e
funcionais que se aplicam em diversos contextos e se atualiza o
quanto for preciso para que se continue aprender.
Quando
a avaliação é utilizada para informar onde houve avanço ou ranço
no processo de aprendizagem, ela se torna numa ferramenta pedagógica
indispensável no dia-a-dia do professor, da escola, e principalmente
do aluno, que é o sujeito da aprendizagem.
Sendo
assim Zacharias (2008, p.01) aponta as características de uma
avaliação:
- A avaliação deve ser contínua e integrada ao fazer o diário do professor: o que nos coloca que ela deve ser sempre possível em situações normais, evitando a exclusividade da rotina artificial de situações de provas, na qual o aluno é medido somente naquela situação específica, abandonando tudo aquilo que foi realizado durante a sala de aula antes da prova. O registro é de grande ajuda para o professor na realização de um processo de avaliação contínua.
- A avaliação será global: quando se realiza tendo em vista as áreas de capacidade do aluno: cognitiva, motora, relações interpessoais, de atuação etc, a situação do aluno nos vários componentes do currículo escolar.
- A avaliação será formativa: se concebida como um meio pedagógico para ajudar o aluno em seu processo educativo.
Colaborando Hoffmann apud
Zacharias (2008, p.01) resume:
Avaliar
nesse novo paradigma é dinamizar a oportunidades de ação-reflexão,
num acompanhamento do professor e este deve propiciar ao aluno em seu
processo de aprendência, reflexões a cerca do mundo, formando seres
críticos libertários e participativos na construção de verdades
formuladas e reformuladas.
Logo
a avaliação é um tema gerador de muitos debates e discussões
principalmente na área da Educação Física. Por causa da
influência esportitivista dentro do cenário escolar, a avaliação
do professor se limitou ao desempenho, ou seja, pela medição do
mais apto e do menos apto em desempenho de determinadas habilidades
motoras e capacidades físicas servindo como estratégia de seleção
dos alunos para a disputa de campeonatos escolares.
Darido
e Rangel (2005, p.123) comentam que:
Historicamente,
aplicavam-se na rede pública os testes de suficiência física
(início do ano) e eficiência física (final do ano), formalizados
de maneira que os diários de classe dos professores já continham
instruções para a sua realização. Tratava-se de exercícios de
verificação da força – abdominal, dos membros inferiores
(canguru), dos membros superiores (flexão no solo, no banco e na
barra) – e de coordenação geral (burpee). Conforme a quantidade
de repetições, os alunos eram classificados em categorias: fraco,
regular, bom e excelente.
Este
tipo de avaliação que tem como característica principal à
seletividade não é aceitável dentro da escola, pois considerando
este local um espaço democrático, classificar um grupo em mais apto
e menos apto, significa dificultar a questão da interação social
destes indivíduo. A classificação é um instrumento de avaliação
punitiva, portanto que pode trazer marcas irreversíveis no aluno.
No
caso da EJA, onde a maioria dos alunos são trabalhadores, uma
avaliação baseada no desempenho físico e com grau de exigência na
execução das habilidades motoras, acarretaria uma grande evasão
dos participantes, tendo em vista que muitos deles não teriam
coragem de fazer, principalmente as do gênero feminino, por causa da
vergonha e da timidez.
Uma
avaliação consistente se estrutura quando o professor observa quem
são os seus alunos, quais são os seus conhecimentos sobre
determinados assuntos, quais são suas facilidades e dificuldades na
realização de determinado movimento, e se no final de um período o
aluno consegue ser crítico quando o tema estudado é abordado.
Numa
avaliação na dimensão conceitual Darido e Rangel (2005, p.130)
diz:
A
avaliação deve consistir em observar o uso de conceitos em
trabalhos de equipe, debates, exposições e, sobretudo, nos diálogos
entre alunos e entre o professor e o aluno. Às vezes, o tempo não é
suficiente para observá-los em todas essas situações, daí pode-se
pensar numa prova escrita, mas é preciso ter claro as limitações
quanto a avaliar de fato a aprendizagem do aluno.
Utilizar
a prova escrita como instrumento é relevante, desde que o professor
tenha a sensibilidade de entender o que o aluno quer passar, e não
que ele escreva exatamente o que aprendeu sem ter um ponto de vista
crítico sobre o assunto abordado.
Já
numa dimensão procedimental Darido e Rangel (2005, p. 132)
argumentam que:
Logo
pensamos na avaliação das habilidades motoras, tanto básicas como
específicas, e também nas capacidades físicas. No entanto, nesta
concepção q defendemos é possível ir além e avaliar outros
aspectos procedimentais. Pode-se, por exemplo, avaliar a capacidade
dos alunos de coletar notícias nas quais podem anexar-se comentários
pessoais dos jovens sobre as matérias jornalísticas. As notícias
ainda podem ser organizadas em painéis, numa parede de sala ou de
qualquer outro espaço da escola, cujos temas podem ser: importância
da atividade física, problemas de postura e outras.
A
parte prática das aulas de Educação Física é interessante desde
que não seja avaliada de forma punitiva e sim, como uma
possibilidade de verificar aonde ocorre à dificuldade de execução
e apontar os possíveis caminhos para sua evolução. Além disso,
estimular a produção de trabalhos e a criatividade como confecção
de revista ou jornais contribuem para o desenvolvimento do aluno.
E numa dimensão atitudinal Darido e Rangel (2005, p.130) dizem que o
professor deve:
Conhecer
aquilo que os alunos realmente valorizam e quais são as suas
atitudes, deve ser necessário que surjam situações de conflito.
Durante as situações de aprendizagem, em jogos, esportes,
ginásticas, conhecimento sobre o corpo, danças e lutas, os alunos
são submetidos a inúmeros desafios. Eles devem adaptar-se aos novos
movimentos; ao uso do espaço e do material; a determinada regras; a
expressar sentimentos, inibições e dificuldades; enfim, variáveis
que compõem um ambiente de ensino e de aprendizagem bastante
complexo. Não raro eclodem conflitos nestas nessas situações.
Na
população da EJA, é muito comum a questão do conflito, por causa
da idéia já formada dos alunos sobre algumas temáticas, muitas
vezes influenciados por questões religiosas, por questões
familiares, entre outros. Saber mediar, provocando e abrindo um
espaço para o debate de determinado assunto é relevante para que as
questões relacionadas à atitude sejam trabalhadas de modo que todos
consigam compreender a sua importância e praticá-las no decorrer de
sua caminhada.
Enfim,
a busca de uma prática pedagógica construtiva, é desafio constante
para o professor de Educação Física, em qualquer modalidade da
Educação Básica, entretanto a EJA, tem uma particularidade, por se
tratar de um curso que abrange indivíduos das diferentes faixas
etárias, diferentes regiões, entre outras características, o que
torna o desenvolvimento do ensino numa tarefa bastante complexa pelo
professor.
Desenvolver
um trabalho respeitando as individualidades e a diversidade existente
na turma, é o caminho a ser conquistado pautado nas dimensões
conceituais, procedimentais e atitudinais. Logo a variedade de
temáticas existentes dentro da Educação Física se torna um grande
aliado para o professor neste processo de educar, alertando sempre
que na questão da avaliação, o aluno deve ser analisado por um
todo, numa observação diagnóstica e formativa, de forma
qualitativa pelo professor.
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acesso em 23 de janeiro de 2008.
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